Hoje acordei estremunhado com o despertador. Já não estava habituado àquele som estridente. Afinal, há quase três semanas que não o ouvia. Isto de uma pessoa de repente passar a ter uma nova rotina é fixe, tem vantagens, mas o acordar não é uma delas. As férias acabaram. É preciso voltar ao trabalho. Levantar do lado estranho da cama e andar pela casa estranhamente fria e misteriosamente silenciosa. Percorrer os poucos passos que me separam da casa de banho a tiritar de frio. Ligar a água para o duche e ouvir o já quase desconhecido ligar do esquentador. Tomar o duche em silêncio, evitando sons comprometedores que possam acordar os vizinhos. Não conseguir evitar um deles. Alto. Será que ouviram? Olha, que se lixe. Sair, vestir, comer duas ou três bolachas e um copo de leite para enganar a fome que teima em não aparecer. Em pé, a apreciar a vista da cozinha para o rio próximo. Lavar os dentes mas primeiro passar um segundo a pensar em qual é a escova certa. Estou pronto.
Vestir o casaco, pegar nas chaves, no telemóvel, no tabaco (não esquecer o maço suplente), acender a luz da entrada para conseguir vislumbrar alguma coisa na escada do prédio, apagar a luz da entrada depois de acender a luz do prédio, sair de casa e não esquecer de a trancar, descer as escadas, sair do prédio, maldizer o frio, ver o branco da condensação da nossa respiração, apesar de ainda ser noite, ligar o carro, são 7 em ponto, estão a começar as notícias.
Ao atravessar a ponte, os pensamentos já não fluem como deve de ser. Estou em piloto automático. Tão em piloto automático que quando o maluco que vai à minha frente na faixa da direita ultrapassa a mota pela guia aproveitando a saída de emergência para os carros avariados, nem um impropério consigo debitar. O frio tolda-me as ideias. A névoa ainda me assalta os pensamentos. Estou dormente.
Um dia de cada vez, Passion!
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